01/03/2020 – O Estádio Ulrico Mursa

Domingo frio e chuvoso. Às 6h50 partíamos do Terminal Rodoviário do Jabaquara em direção à Santos, a cidade mais esportiva do Brasil para vermos nossa primeira partida  fora da Região Metropolitana de São Paulo: Portuguesa Santista x Esporte Clube Taubaté, pelo Campeonato Paulista A2.

Chegamos duas horas antes do início do jogo. Pudemos andar pelo centro, próximo ao estuário, sob uma incessante garoa que molha até os ossos, mas que não desanimou nosso espirito andarilho. Por conta do horário, o comércio estava fechado e as ruas vazias. No entorno dos armazéns antigos, boa parte das construções estão abandonadas e com sua estrutura deteriorada. O silêncio da manhã era cortado pelo correr dos caminhões na Rua Xavier da Silveira e, principalmente, pelo ranger pesado do trem, carregando a soja que arrasa o campo para o exterior. Sua cotação no momento em que o post é escrito está em R$82,91 a saca.

Em frente à antiga Alfandega está o atracadouro da lancha da Dersa que faz a travessia de pedestres Santos-Vicente de Carvalho, distrito do Guarujá. O valor da passagem é R$1,55 e o intervalo médio entre cada partida final de semana é de 20 minutos. No momento em que o trem está passando, o acesso ao atracadouro é feito por uma passarela na qual é possivel enxergar as embarcações que se destinam ao porto.  A neblina e o cheiro do mar me fizeram por um momento querer ser Ismael.

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Em primeiro plano, o atracadouro da lancha da Dersa.

Quase 10h, voltamos ao entorno da Praça dos Andradas para pegarmos um Uber até o estádio, no bairro também chamado Jabaquara, à quase 3 km dali. Uma distância possível de ser feita a pé se não estivesse em cima da hora do jogo e se não fosse a fome que nos abatia. Procuramos alguma coisa para comer, mas os únicos estabelecimentos abertos, no entorno da Rodoviária, não eram exatamente convidativos para se tomar um café.

Por R$ 6,45 a corrida, descemos do carro exatamente no momento em que tocava o hino nacional e fomos comprar os ingressos. Há três modalidades de ingresso no estádio: arquibancada descoberta, arquibancada coberta e cadeira coberta. Escolhemos obviamente a primeira, vinte reais a inteira.

O Estádio, com capacidade para sete mil pessoas, leva o nome do engenheiro e diretor da Companhia de Docas de Santos , Ulrico Mursa, que doou para a Associação Atlética Portuguesa o terreno em 1914. A inauguração ocorreu três anos depois, em 1917.  O estádio pode ser considerado um marco construtivo nacional. De acordo com o site do clube:

A Portuguesa ganhou destaque em 1932, na gestão de Eduardo Costa Lima, quando entregou a primeira arquibancada de concreto da América Latina. Seis anos depois, em 1938, a Briosa seria novamente pioneira ao ser o segundo clube da cidade a dispor de um sistema de iluminação, graças à “Campanha do Vagalume”, em que todos os dirigentes, conselheiros, sócios e simpatizantes do clube doavam lâmpadas de 1500 watts cada, construindo então uma torre de 31 metros e 80 centímetros.

Passamos pela revista policial e entramos a tempo de ver o chute inicial. Sentamos na lateral, próximo ao reduto em que estava confinada a pequena torcida do Taubaté. No entanto, a garoa engrossou, nos forçando a ir para debaixo da cabine de locução. Um pouco escuro e mais quente, não foi difícil fechar os olhos para recuperar a noite mal dormida por conta da viagem e cair num soninho, do qual fui prontamente desperta por um grito de “JUIZ FILHO DA PUTA”, dez minutos depois, dos torcedores ao meu lado.

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Não estava propriamente lotada a partida, mas compareceu uma torcida fiel e bastante animada com o jogo. Jogo este com bastante contato, faltas e até um cartão vermelho. A Briosa, como é conhecido o time santista, começou o jogo bastante ofensivo, um tanto briguento e presunçoso. O primeiro tempo transcorreu quase integralmente na área adversária. Muitas ameaças, o gol parecia uma iminência incontornável. Chegaram a conseguir um pênalti, mas o goleiro taubateano defendeu.

O campo encharcado, levantando água a cada jogada, a bola pesada que esquecia de rolar. Após o intervalo, os atletas voltaram com uniformes limpos e a situação do jogo pareceu se inverter. A Briosa não conseguia mais ultrapassar o meio-campo e o time visitante começava a crescer no jogo e finalizar mais jogadas. Aos 12 minutos, uma entrada violenta levou à expulsão de Brumati, da equipe rubro-verde, e deu inicio a um pandemônio no jogo. Após o momento de tensão que sucedeu o cartão vermelho, a movimentação em campo dos dois times estavam no modo freestyle. Ninguém acertava passe, a bola ia direto para os pés do adversário, a torcida cada vez mais injuriada com a arbitragem.

Foi aos 31 minutos que veio a glória do Taubaté. Totalmente sozinhos no campo adversário, não tiveram dificuldades para balançar a rede dos donos da casa numa sucessão de lances que deixou a torcida da Briosa calada. O jogo seguiu a partir de então ainda mais desencontrado. A Portuguesa teve chance de empatar, mas o jogo terminou no 1×0.

Havia alguém fazendo locução do jogo, talvez tenha sido o próprio Walter Dias, porém não conseguimos entender uma palavra do que foi dita devido a falta de sistema de som no lugar em que estávamos. A chuva e frio nos impediu de um registro fotográfico completo do estádio. Acabamos também nem indo ver a lanchonete ou comendo algum alimento vendido na arquibancada, fundamental para a experiência do jogo. Ficamos com uma sensação de incompletude na nossa avaliação.

Mas voltamos pra São Paulo felizes por o blog ter sobrevivido às tempestades dos últimos dias e o motivo dele também♡.

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O Ulrico Mursa visitado em 1991 aqui.

 

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