21/07/2019 – O Estádio Municipal Bruno José Daniel

Um dia atípico nos levou à cidade de Santo André, a cidade que outrora foi a vila de Santo André da Borda do Campo, fundada pelo bandeirante João Ramalho. E, se ao menos não buscamos emular as atrocidades cometidas nas bandeiras, tivemos algo em comum para chegar à cidade: muita andança. Caminhamos cerca de 10km com o céu aberto e o sol rachando nossa cabeça (pelo menos é inverno), provavelmente a mesma distância que os jogadores correram em campo neste domingo. A história é longa:

09h14 do domingo: parados no ponto da esquina da Consolação com a Paulista víamos o ônibus que precisávamos pegar se afastando, sem previsão de quando passaria o próximo. O plano para aquele dia era assistir Guarulhos x Joseense pela Segunda Divisão do Paulista, às 10h da manhã no Estádio Antônio Soares de Oliveira, mas já não chegaríamos a tempo. A culpa foi minha que demorei mais tempo do que calculei para me vestir e sair de casa.

Com a tristeza da incapacidade e o ressentimento pelos planos dissolvidos pegamos outro ônibus e fomos nos esquentar ao sol no Parque da Aclimação antes de voltar para casa e gastar o dia no sofá.

Já era quase 11h. Descobrimos pelo Google que o Esporte Clube Santo André jogava em casa contra o Água Santa pela Copa Paulista às 15h. Era nossa chance e lá fomos nós para Santo André, da forma que gastasse menos passagem possível: andando a pé, num percurso de 3,6 km, até a estação Mooca-Juventus, e de lá pegar o trem para descer na Prefeito Celso Daniel e caminhar mais 3km.

Atravessamos os bairros da Aclimação, Cambuci e um pedacinho da Mooca em mais ou menos 45 minutos de caminhada. Passamos por ruas que eu não conhecia e que naquela tarde de domingo, silenciosas e vazias, soaram como esquecidas em outro tempo, em contraste com a Avenida do Estado, barulhenta e congestionada, que precisamos cruzar por uma passarela para chegarmos na estação Mooca-Juventus. A fábrica da Companhia Antarctica Paulista, junto aos trilhos ferroviários, de alguma forma me impressionou, seja pela sua monumentalidade ou pelo estado degradado.

Embarcamos na CPTM e cinco estações depois chegamos na Estação Prefeito Celso Daniel, em Santo André. De lá precisamos andar mais 3km, a maior parte do trajeto em uma única via, a Avenida Queirós dos Santos, em que se encontra atualmente a fábrica da Bridgestone Firestone. De longe se sente o cheiro impregnante de borracha e as pilhas de pneu se avolumam em seu pátio.

A maior parte do comércio, por ser domingo, estava fechado. Também havia bastante imóvel vazio e alguns deteriorados. As ruas transmitiam algo de sonolento. Depois de meia hora de caminhada nos deparamos com o Brunão e uma torcida consistente ao redor.

A equipe andreense tem meio século de história e acumula feitos notáveis, especialmente nos últimos 20 anos, como a surpreendente e inesquecível conquista da Copa do Brasil sobre o Flamengo no Maracanã lotado em 2004. Seu mascote é o explorador português João Ramalho e por isso o time também é conhecido por Ramalhão, como não poderia ser diferente do uso tradicional dos aumentativos no futebol.

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Ramalhão, o mascote do Santo André

O clube manda seus jogos para o estádio municipal, cuja capacidade de 8000 torcedores é bem pequena em relação ao porte da cidade. Por isso, nos jogos de grande demanda de público (e por exigência de regulamentos) o Santo André manda seus jogos para a capital. Além disso, construído em 1969, o estádio sofre com a falta de manutenção. Há notícias de que desde 2015 há promessas de reformar a construção, sem que, no entanto, a reforma tenha saído do papel até agora. No jogo que assistimos, o gramado, que é de responsabilidade do clube, apresentava muitas falhas.

O estádio possui características interessantes como a ausência de arquibancada atrás dos gols, ausência de área coberta ou de cadeiras, e um fosso que separa o campo da torcida, gerando alguma dor de cabeça para os gandulas quando a bola resolve cair neste vão. O estádio é todo pintado em azul, amarelo e branco, as cores do escudo do clube e brasão da cidade.

Nós e mais de 600 andreenses e alguns visitantes presenciamos um clássico do ABCD, Santo André x Água Santa, jogando pela primeira fase da Copa Paulista. O jogo teve alguns dribles bonitos da equipe de Santo André, mas poucos lances ofereceram chance de gol para as duas equipes, terminando zero a zero. Sentamos próximos à Torcida Esquadrão, que durante os noventa minutos da partida não parava de pular e cantar, entre outros cânticos:

Santo André querida do coração
Sigo te apoiando com emoção
A copa do brasil eu comemorei
(História linda)
E pela sua história me apaixonei
Eu vou contar
Seja na serie D ou na seria A
Vou cantar
É Santo André

A música ficou ressoando na minha cabeça durante a volta para casa. De alguma forma a letra liga a devoção ao time com dois fatores: o amor a cidade e o reconhecimento dos feitos marcantes do clube, sua história, em suma. De alguma forma, essas razões afetivas são encontradas em todo torcedor de qualquer time, uma relação com um lugar e uma admiração pelas conquistas anteriores, admiração essa não se ofusca mesmo numa má fase.

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Perdemos o outro ingresso antes de tirar a foto